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Diário de Bordo - Expedição FENATAC Rota Bioceânica

Por Comunicação FENATAC | 28/09/2024



28 de setembro | 1º dia

Entusiasmo, curiosidade e determinação: o combustível para iniciar essa jornada


Nossa expedição começou bem cedo em Campo Grande, composta por sete pessoas em dois carros. No primeiro, que foi sempre a frente, o presidente da FETRAMAR, João Rezende Filho, o vice-Presidente, Julio Sales Lima e o guia Toninho Ruiz, que só se juntou ao time em Porto Murtinho.

No segundo carro, o presidente da  FENATAC,  Paulo Afonso Lustosa, o vice-presidente Camilo Marra, o diretor de comunicação e negócios Humberto Junqueira e o médico Victor Lustosa.

Pegamos a BR 267 em direção a Porto Murtinho, às margens do rio Paraguai, já na fronteira. Foram cerca de cinco horas de viagem, percorrendo 439 quilômetros, passando por cidades como Nova Alvorada, Bataguassu, Nioaque e Alto Caracol.



De um modo geral, a rodovia encontra-se em bom estado, com alguns pontos mais desgastados. Passamos por trechos aonde as obras de restruturação da rodovia estão em andamento, como alargamento do acostamento.

O sentimento do grupo é de que apesar das obras estarem de fato acontecendo, ainda falta muito a fazer para que toda a rodovia esteja em perfeitas condições de atender ao enorme fluxo de caminhões previsto.

Em Porto Murtinho nos deparamos com a impressionante obra binacional de construção da ponte sobre o rio Paraguai. A previsão de conclusão é em 2026 e depois de pronta, serão 1,3 quilômetros de estrutura moderna, incluindo postos de aduana e outros equipamentos, ligando o Mato Grosso do Sul à pequenina cidade paraguaia de Carmelo Peralta.


 

Cruzamos o rio de balsa e passamos sem problemas por um modesto posto de fronteira, adentrando o Paraguai pela novíssima rodovia PY15, toda pavimentada, sinalizada e já pronta para receber os transportadores.

Rodamos quase 300 quilômetros por essa ótima rodovia recém entregue, cortando um imenso chapadão totalmente plano, com pequenos vilarejos e muitas estâncias produtoras de gado, canola, soja e milho.

Praticamente não passamos por outros veículos, nem  postos de combustível. Tampouco encontramos pontos de descanso, restaurantes, lanchonetes ou estruturas adequadas de apoio aos caminhoneiros.

Acreditamos que, com a inauguração da ponte e o aumento do fluxo de veículos, naturalmente vão surgir estes pontos ao longo do percurso.


 

Nosso primeiro dia de expedição terminou após mais de 760 quilômetros percorridos desde Campo Grande até a surpreendente Filadelfia.  Trata-se de uma cidade fundada pelos menonitas de origem russa e alemã. Uma pequena e linda cidade bem estruturada, limpa, organizada , e que poderia facilmente estar em algum ponto no interior da Califórnia. Ali vive gente ligada ao agronegócio, produzindo carnes, laticínios, entre outros.

Ficamos com a convicção de que a Rota Bioceânica vai gerar inúmeras oportunidades e atrair muitos novos negócios para aquela região.


29 de setembro | 2º dia

De Filadelfia no Paraguai a Tartagal na Argentina: calor, paciência e muita poeira


Depois de passarmos a noite em um dos poucos hotéis da cidade que, inclusive, tem uma boa estrutura para receber viajantes, logo cedo retomamos nossa jornada rumo à  Argentina, sempre focados em chegar ao distante Chile.



Era hora de encarar um longo e difícil trecho de estrada de chão que se inicia na cidade de Mariscal Estigarribia, estendendo-se por mais de 260 quilômetros. Por sugestão do nosso guia, percorremos um trecho mais longo no asfalto para enfrentar somente 110 quilômetros de estrada de chão.



Toda a estrada já está sendo preparada para receber a pavimentação e no caminho, inclusive encontramos uma equipe de operários trabalhando em pleno domingo.



Segundo o chefe da obra, quatro concessionárias estão trabalhando intensamente, cada uma com 50 a 60 quilômetros de rodovia para entregar. Ele ainda afirmou que em 18 meses, cerca de mais 100 quilômetros já estarão pavimentados. Vale reforçar que não é uma boa ideia percorrer esse longo trecho de chão a noite, pois existem uma série de entroncamentos, pequenas estradas e riscos de se perder no caminho. Melhor é parar em Filadelfia ou Mariscal Estigarribia, as maiores cidades nesse trecho do Paraguai.

Após pouco mais de 3 horas de muita poeira, buracos e calor de quase 40 graus, a uma velocidade média de 35 Km/h, finalmente voltamos a rodovia asfaltada.



Até a fronteira com a Argentina, na cidade de Mission De La Paz, passamos por pequenas cidades como Pozo Hondo, sempre em estrada simples, com acostamento comum.

A travessia do Paraguai para a Argentina é bem tranquila e sem muitas burocracias. O posto de fronteira, no início de uma pequena ponte que liga os dois países, estava vazio e tranquilo. Pelo menos nesse momento, não nos pareceu que aquele lugar recebe um fluxo grande de veículos.

Já dentro da Argentina, percorremos um trecho de uns 25 quilômetros de estrada de chão. Porém, bem melhor do que o trecho do Paraguai.

Após isso, retomamos definitivamente a rodovia pavimentada até chegar à cidade de Tartagal, a cerca de 625 quilômetros de  Filadelfia.



A rodovia nesse trecho está razoavelmente boa, sempre uma rodovia simples, com acostamento. A região em torno é marcada por estâncias de gado, algumas plantações e pequenas cidades mais pobres.

Um ponto interessante ao longo da jornada na Argentina são os Postos de Gendarmeria. Não estranhe, é comum seu veículo ser parado nesses postos pelos guardas, que foram sempre simpáticos conosco. Só querem ver se está tudo bem, para onde estamos indo, essas coisas. A Gendarmeria é uma autarquia do exército argentino, que funciona como uma espécie de Polícia Rodoviária Federal do Brasil.  



Nosso segundo dia de expedição se encerrou no início da noite, por volta de 19 horas em Tartagal. Apesar de pequena, foi a maior cidade que encontramos desde que saímos do Brasil.

Tartagal possui boa infraestrutura, pequenos hotéis, postos de combustível, restaurantes, enfim, tudo para receber um motorista cansado. Inclusive boas casas de parrilla, onde você pode apreciar a excelente carne argentina a bons preços e em porções para lá de generosas.


30 de setembro | 3º dia

Para o alto e avante: é hora de subir a Cordilheira


Mais uma vez acordamos cedo e pegamos a estrada, norte da Argentina adentro, dessa vez para percorrer mais 605 quilômetros até a fronteira da Argentina com  o Chile, subindo a 4.500 metros de altitude pela Cordilheira dos Andes.



De Tartagal até a capital da província de Jujuy, San Salvador de Jujuy, rodamos por uma rodovia simples hora bem preservada, hora mais desgastada. Mas sempre com acostamento, passando por diversas cidades pequenas como Embarcación.

Os pequenos vilarejos pobres ainda fazem parte do cenário mas também chamou atenção as criações de gado, plantações de milho, cana e trigo.

A geografia da região vai mudando pouco a pouco à medida em que vamos nos aproximando das Cordilheiras. Você sabe que está chegando a San Salvador pelas enormes montanhas que vão surgindo no horizonte.

Até esse ponto da Rota Bioceânica, podemos afirmar que as rodovias, mesmo não sendo duplicadas, tem condições para receber os grandes caminhões bitrem.

Mas foi subindo as montanhas por seis horas em uma estrada tortuosa, repleta de curvas acentuadas, até chegar na fronteira, que percebemos os perigos e limitações desse trecho da rodovia. Definitivamente não é possível passar por ali conduzindo um grande caminhão bitrem.

Entretanto, caminhões de três eixos, caminhões transportando contêineres de 20 ou 40 pés, trafegam normalmente.



Passamos inclusive por diversos desses veículos ao longo da jornada, em meio a uma paisagem deslumbrante, rochas sumindo no céu, áreas desérticas tomadas por sal e lhamas pastando.



É importante lembrar que após começar a subida e até a fronteira com o Chile, o viajante só encontrará pequenas cidades com 3 a 15 mil habitantes e praticamente pouca estrutura de suporte aos motoristas.



É comum se deparar com vendedores de folha de coca, artesanato, gorros e outras coisinhas de beira de estrada.

 

Barrados pela burocracia chilena e pela altitude


Chegamos por volta de seis da tarde em Salinas Grandes, 2 mil habitantes, divisa entre a Argentina e o Chile. Ao contrário do pé da Cordilheira, aonde a temperatura batia mais de 30 graus, ali o frio começava a dar as caras, com ventos gelados e já chegando a 6 graus.

Fomos então surpreendidos pelos agentes  aduaneiros chilenos informando que veículos só podem entrar no Chile se o proprietário que consta nos documentos estiver no carro. Caso  contrário, fique atento: é preciso também apresentar uma procuração registrada em cartório, com a autorização para que aquele veículo rode pelo país. A regra também vale para carros alugados, que devem apresentar a mesma procuração por parte da locadora, junto com a documentação. Ah, tudo impresso, claro.

Tentamos argumentar que nosso veículo pertence à FENATAC – que consta no documento como a proprietária e e que os próprios presidente e vice-presidente estavam ali. Eles teriam de assinar uma procuração autorizando eles mesmos a usarem o carro?

Após quase duas horas, fomos definitivamente barrados e tivemos de encerrar precocemente nossa jornada de reconhecimento da Rota Bioceânica, depois de rodar cerca de dois mil quilômetros entre Brasil, Paraguai e Argentina.

  

O ponto alto de nossas dificuldades


Impedidos de entrar no Chile, coma a temperatura caindo rapidamente, decidimos buscar abrigo em algum lugar ali mesmo, até porque seria arriscado descer a Cordilheira a noite.

Por sorte, encontramos uma hostelaria, uma espécie de pensão, com quartos disponíveis para todos. Mas não se anime. Os quartos não tem banheiro, que aliás só existia no fundo do corredor e a internet simplesmente não funciona.

Fomos dormir e, com o passar das horas, a temperatura baixando até -8 graus, começamos a sentir os duros efeitos da altitude.

Em maior ou menor escala, todos da equipe tiveram algum tipo de sintoma, variando entre taquicardia, dores de cabeça, pressão subindo, náuseas e muita angústia. Tudo provocado pela baixa de oxigênio.

Se não fosse o  médico de nossa equipe, Dr. Victor Lustosa, que mesmo também sofrendo com a altitude passou a noite cuidando dos companheiros, poderíamos ter consequências mais graves.

A questão é tão séria que, enquanto tentávamos entrar no Chile, o Dr. Victor teve de socorrer alguns idosos brasileiros que, aguardando sua excursão para o Atacama ser liberada, sentiram rapidamente os efeitos da altitude.

Pela manhã, com a temperatura já em torno de 10 graus, fizemos uma sessão de oxigenação, usando cilindros de emergência que estavam em um de nossos carros. O efeito restaurador é impressionante. 

Após uma noite difícil, boas doses de oxigênio e um café da manhã honesto, começamos nosso retorno para Jujuy.



Dicas importantes para a fronteira da Argentina com o Chile


  • A aduana na fronteira fecha rigorosamente as 8 horas da noite. Portanto, evite chegar lá muito tarde. As temperaturas caem rapidamente, a burocracia torna o processo lento e Salinas Grandes não possui qualquer estrutura para abrigar turistas ou sequer um bom posto de saúde.

  • Lembre-se de que o Chile não faz parte do Mercosul e portanto, as regras de entrada e saída daquele país são distintas.

  • Você só entra de carro no Chile se for o proprietário do veículo ou levar consigo uma procuração cartorial do proprietário, autorizando a entrada no país.


1 de outubro | 4º dia

Descendo a montanha para um descanso merecido


Deixamos a baixa oxigenação e o fascinante visual de Salinas Grandes, cercada por picos nevados e descemos a Cordilheira até San Salvador de Jujuy, nos pés das montanhas.



Foram cerca de 5 horas pelas estradas tortuosas das Cordilheiras até chegarmos por volta das quatro da tarde ao nosso hotel em San Salvador.

Cansados da noite anterior, optamos por ficar ali nos reestabelecendo e no dia seguinte, partirmos para o Brasil por uma nova rota: passando por Assunção, capital do Paraguai.

Vale destacar que San Salvador de Jujuy é a maior cidade da Rota Bioceânica entre Campo Grande no Brasil e a fronteira com o Chile. A cidade possui cerca de 500 mil habitantes, é muito bem estruturada, com opções de hotéis, resorts, lazer e tudo para receber bem turistas e motoristas profissionais que passem por lá.



2 de outubro | 5º dia

Rumo ao Paraguai, dessa vez passando por Assunção


Como já não poderíamos chegar ao nosso destino, a cidade de Antofagasta, às margens do oceano pacífico, no Chile, decidimos sair da Rota Bioceânica e voltar para o Brasil por Assunção, no Paraguai.

Foi o trecho mais longo da nossa viagem, com 1.236 quilômetros percorridos por uma rodovia relativamente bem conservada.

A rodovia é simples, pelo menos naquele dia com pouco movimento, quase sem curvas, cortando um chapadão plano e passando por inúmeras pequenas cidades argentinas.




A estrutura de apoio aos motoristas é boa, com muitos postos de combustível e pontos de parada pelo caminho. O viajante não passará aperto caso precise comer, descansar ou abastecer.

Parando apenas para abastecer e fazer um lanche, levamos cerca de 11 horas para chegar até a fronteira que aliás, fica praticamente na entrada de Assunção.

Após entrarmos no Paraguai sem maiores dificuldades, finalmente descansamos em um hotel dessa surpreendente cidade limpa, organizada e acolhedora.


3 de outubro | 6º dia

Pedro Juan Caballero e Ponta Porã, aqui vamos nós


Partimos de Assunção por volta de 11 horas e pegamos a rodovia em direção a Pedro Juan Caballero, fronteira com o Brasil. Esses sem dúvida foram os 469 quilômetros de estrada mais movimentados que enfrentamos por toda a jornada.

Trata-se de uma importante rodovia do país, passando por muitas pequenas e prósperas cidades e principalmente, por grandes estâncias produtoras de milho, soja, gado, entre outras produções.



É a região aonde se encontram o maior número de “brasiguaios”, donos de grandes áreas, empresários e produtores importantes para o país. Talvez por isso o movimento na rodovia seja tão intenso, com veículos indo e vindo todo o tempo.

Aqui vale destacar também os diversos pontos de parada e apoio aos viajantes, inclusive com espaços muito bem estruturados para alimentação, compras e descanso.

Devido ao grande fluxo na estrada, nossa viagem demorou mais do que o previsto e chegamos a Pedro Juan Caballero por volta de 7 horas da noite.

Para quem não conhece, essa cidade paraguaia faz divisa com Ponta Porã no Mato Grosso do Sul, apenas por uma rua. Atravessando a rua você simplesmente está no Brasil.


4 de outubro | 7º dia

De volta para casa


Nosso sétimo e último dia foi percorrendo os 298 quilômetros que separam Ponta Porã de Campo Grande. Apesar da boa impressão que muitos dos trechos da nossa jornada deixaram, é evidente a pujança, a grandeza e a enorme influência do Brasil sobre nossos vizinhos latinos.

Depois de almoçarmos em Maracaju, degustando a famosa linguiça da região, concluímos nossa expedição, acreditando na importância estratégica e no enorme potencial que a Rota Bioceânica tem para gerar desenvolvimento ao Brasil, Paraguai, Argentina e Chile.

A Rota não é exatamente uma super rodovia bem estruturada, mas com certeza vai contribuir muito para a economia dos quatro países.





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